sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Carta 2

Amigos Imaginários de si mesmos! Caro, O dia está em retirada, tropeça do espaço uma rede negra, fecha-se as pálpebras do horizonte, hoje, a boca da noite ingressa aos poucos e, com acanhadas pincelas sinto meu estado de espírito trocar de cor. A NOITE, sempre ela, amigo, abre alas para o principio da criação. Mas o que ela trará hoje? Qual o próximo vocábulo escrito? Esse processo, essa dependência dessa agitação de sentimentos quebra o sigilo do peito - letras, vida, pessoas, tudo começa a transformar-se para o início da queda livre de uma vida no papel. Intriga-me de como se abre as cortinas da composição, o despertar da criação às vezes tão escassa. Será que hoje vai dar samba? Quando desperto costumo me perguntar isso... Será que receberei a visita desse abalo que move minha arte? Tenho arrazoado muito pouco sobre o mundo de fora! Não me interessa qual fortuna me receberá de braços abertos, ou como os fatos vão se encaminhar pelas ruas, telefonemas, eventos, tudo me soa apenas como ocasiões externas anãs a serem ignoradas... Tranquei-me! Sentado, sensato, pela primeira vez na rede do sossego, só aflige a espera da musa que me fará assentar aqui e descrever minhas paisagens delirantes. Existe uma forma de trancá-la em mim? Criar essa energia inspiradora em cativeiro? Os dias de espera me atacam, atassalho-me quando falha a poesia e cancela-se o baile da sutileza de notar a vida e jorrá-la no papel; esses sim são tempos rasgados do meu calendário. Agora, trovador, o crepúsculo caminha em minha direção enquanto escrevo essa carta, será que a senhora da criação me trará novidades que me farão continuar a minha peça? É triste deixar os personagens me esperando para poder continuar seus destinos! Deus não pode se dar ao luxo de tirar férias por falta de inspiração. Minha vida não pode parar, muito menos as dos meus personagens, sujeitos tão mais bem desenhados que eu. Cada linha que ganho na minha obra entra como mais um fragmento do meu testamento! Escrever é o único acontecimento que pretendo participar honestamente na terra, e a única fortuna que posso deixar! Entendo o seu rasgar, reler, atassalhar, também faço isso! Mas com a intenção apenas de não deixar o que fui apresentar-me como mixaria. Afinal, essa opção tem nos custado caro, merece meu cuidado e principalmente ser lavrado com respeito! No final de tudo, a reunião de toda essa papelada será o grande segredo que revelará o que fizemos aqui. É bom apagar pedaços desnecessários, abrir espaço para o que realmente deve ficar. Não que devemos caçar a perfeição, mas o descuido com a arte já reina por aí, se posso de certa forma me poupar de contribuir com essa parte! Não sei se sou mesmo esse fiel personagem das cartas, na verdade, tenho cada dia menos imagem de qual desses tantos sou, porem, o que agora anota a arruaça da minha existência é o único a ser levado a serio! Se não sou esse, pode ter certeza, caro amigo, ele é o único a que pretendo imitar por muito tempo! Lembra de quando troçávamos de que você era meu amigo imaginário? Deve se lembrar mais ainda que teve gente que acreditou! Rimos durante muito tempo desse episódio, porem, o tempo passou e voltamos para o mesmo lugar. Será que não somos dois amigos imaginários? Quem é você poeta? Essas cartas entregam tanto o quando nos perseguimos diariamente. Nos encontramos aqui sempre diferentes e desconfiados de si mesmo! Não somos, e sim nos imaginamos! Alexei e Branka me aguardam sentados, vou tentar continuar um pouco mais suas sinas! Sabe qual o mais incrível? Se esses personagens soubessem que o fim que tenho para ele é triste, será que estariam melhores sem mim? Com toda benignidade, Caio

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