sexta-feira, 18 de outubro de 2013

3 marias

Maria Maria Maria A ilha da fêmea contemplada pelos ouvidos alheios, abriga a face para o aplauso de Deus na platéia Ser amplo arde e esconde a carcaça da normalidade. Fósforo que achega-se ao fim, crema a mão da alumiada que alimenta a brasa. Gozo musical aborda o primitivo útero de um todo. A espectadora vê teus bustos em notas, penugem de talento, enorme dona, sonega um palco de solidão. Teu cão não é a biríta, teu dom não é a ruína, em seu vão ninguém se distrai, quando pára a terra para cantar, tua essência corre atrás do juízo. A asa que brota melodicamente em suas costas, fantasia o cético, te iça como a melhor voz da banda do divino.

guardanapo

Amar é desabar em outrora Solver o antes feliz para gerar o que só foi perfeito Amar e ansiar o trem da dor na mais luxuosa estação Os afetos serão sucessivamente novos, as dores sempre idênticas Os apegos bailarão no jazido das minhas melhores experiências Elas irão pesadas, nas costas do meu primeiro sudoeste, na brisa das minhas ruínas, pra longe atilados desamores E no recinto que permanece, choverão dos astro das moças, calúnias, nas novas folias: notícias de uma jovem cara metade. Amar é erguer, como palácio de baralho, algo sutil que tombará uma hora ou todas. Içar a pirâmide do juízo só para armar alguma intensa rasteira no sentir-se vivo Saudade será sempre o selo do “valeu a pena” ....

papelão

Até que profundeza vale atingir o fundo do amor sem mim? Vontade nunca falha, o que me mata é a carência do ar que me escondes! O beijo no cangote do nosso mundo que sonegas ! Já atassalhei tudo que tinha, hora de juntar os trapos e recuar para casa, costurar o suntuoso boneco de pano que sempre fui! Amo amá-la, porém é preciso subir para respirar com algum Deus que preze a graça dessa minha entrega.

Derrota do vento

Bruma de aço, raridade, azulejo no olhar de fundo de piscina, única no espaço, natureza contentada e uma tristeza asilada nos braços Bruma de aço, por dentro, cedro de seiva alumiada, apenada na candura afetada, esculpida pela expectativa das vistas do povo asno e casto Bruma de aço, cursa o céu glorificado pela eficácia da juventude, punida no peso de velejar na altura sem domínio de acuar para assistir seu passo Caminhar ou sobreviver nas costas da brisa, sozinha, Bruma de aço, tende a desenrolar cada nó do espaço, sem ancorar a paz na solidão Na coragem, Bruma de aço, que deslustra o vento por marchar pronto e aguerrido no amparo dos devaneios, sonhos de papel de pão e tele-visão Tanta venera virá ao vôo, ofuscado pouso, desenfreada dor, Bruma de aço cuide sempre da queda, sonhos de ferro, no chão... “ bruma quebra como isopor”.

Quase musica

Descansar na escuridão Deixar o sol do tempo cair No crepúsculo da solidão, do beco dessa dor A aurora no coração há de reluzir No emudecer da madrugada A saudade adormece teu partir O galo do intimo, alvorece um novo ardor Hei de abotoar moço e sem ti Por que desviar o vento do rosto? Os traços do teu jeito riscavam meus passos Parar nosso toque no tolo desgosto? Tive que fincar no peito razões sem laço Deixar-te correr cansa o amor Vai como pena breve, eu toco os vestígios de nós Dançar a perda engana o choro No coro da lembrança, canção do fim

quase o fim

Diante desse colossal sono que a falta dela me trás, A ausência me apanha a vontade de existir Sem a terra dos nossos toques, habito as lacunas do viver Um sol sem farol para aclarar essa dor e apagar a sombra que me nubla o peito Um riacho sem entusiasmo ancorou sua correnteza na solidão e perdeu o motivo para desaguar em qualquer outro ventre Afinal minha fruta tem sabor de nada se a boca que me abocanha não tiver os lábios da amada Lágrimas de letras, aquarela angustiada, mancham o branco linho que bem vestia nossa paz Jazz o nosso “de hoje em diante” e a historia passa a ser escrita “de cá para trás”, batemos a porta do amanhã na cara da felicidade, libertando da gaiola somente a araponga do passado, e em um vôo franco, apenas as recordações alcançarão nosso céu, somente lembranças transarão o nosso ardor Um pouco morto...eu vivo! Por muito pouco... não levanto! Com tanto pranto... não tenho socorro! Sem o seu sopro... meu vento é o choro! De qualquer morro... desabo amargura! Na secura da saudade... atado me esqueço! De um grande amor...vencido despeço! Meu preço no agora...é uma nota rasgada! O afeto se lançou da escada...partiu nosso sonho ao meio.

pedaço de guardanapo

Talho os Deuses do dom dela Meus trapos retratam o que a rainha é capaz Enquanto o meu tanto ladra minha face Fotos do instinto revelam a dor Esposa, chupim dos ânimos na trombada Bicho, retorno ao nosso caso Só ao longe o amor tem horizonte Só no caos notamos os dois Agreste é o desejo de cativar com os pés no chão Foi o tempo do que o caldo compôs O que a vida nos frutou o mundo vendeu Na lapide do nosso encontro, escrito: Deus viu. Anseio cancioneiro, desposado carcereiro das palavras

outra coisa qualquer

Ele, empunhava a saudade Ela, a espada do não Ele, chovido sentia Ela sorrir no desvão O amor que lhe sacava o sonho Frutava a ela o outro chão Para a moça, uma volta ao mundo Para o guri, um punhado de nada Louco, bebia a própria sombra Com a vidraça do apego quebrada Doida, assaltava o horizonte Improvisava no novo uma estrada Tonto, arrancava-se da vida Ao lado da dor recitava.

...

Essa vida avarenta é um rito que irrita Se uma agonia me desforrada na folia Pulsa meu tarado rumo à ínsula do tato Tocarte laça a queixa, poema roça o lenço Lira canta-nos tapas, aferra da alma o coro Surra leve, no sutil moço do duelo que lavro Faço da fúria leme, e do abalo uma saída da lama Erro os olhos do choro, visto cabal dor e não morro Um dia a noite cairá aos rasos... no peito como terno coice

Jogado fora

De hoje em diante... Permaneço agitado! É impossível e deselegante variar o estado de espírito nesse brioso baile da alucinação. Estamos redondamente loucos, respeitamos mais a curta faixa de pedestre que a infinita auto-estrada da imaginação, atropelando os anseios a cada quina do cotidiano. Nós, eternamente alforriados pelo dom de sonhar, construímos nossas gaiolas invisíveis em uma biografia.com, fora d o ferino instinto de um afortunado destino, em uma mesa de repartição da ignorância, buscando “nossa criatura” via Wireless. Ontem, sereno, subi ao ápice da minha natural civilidade, respirei o novo aroma do planeta, fedia a fantasma! Inculto amor ao autêntico, desobediente sujeito apagado que avista o horizonte cinza e se exibe em algum tipo de fé na passagem pelo viver. Não creio que o mundo desabe a seguir, mas com toda presunção, vaidade, perdeu o caminho de volta para casa. Estamos desabitados nos olhares, doamos ao próximo somente o vento que nos pesa e cremos em amizade simplificada. Experimento um constante pleonasmo na conversa afiada da vida. Muda-se de bairro, troca-se o pano de cama, crescem os arrabaldes para os infelizes, o cansaço alarga a pele da pálpebra de todos, um dilúvio cada dia mais empeçonhado lateja do céu em nós - mas a alma do mortal admite-se ignorante com a mesma ausência de tato para a delicadeza. Desafinados banjos de Deus, vibramos ofensas gratuitas a nós mesmos, em notas distraídas formamos acordes que nos distraem do fato legítimo da essência. Atrás do sucesso dos desvairados, nos deixamos encalhar no meio da alameda do maior encontro, e o caminho do divino choque com o real ensejo de existir já não espera por nós. Quem recusaria a agradável anedota da paz pelo tapa na cara de um diário funeral de si mesmo? Não denuncie que também tenho morrido! Não espalhe minha habitual revenda a miragem de apenas sugerir ser– talvez , estar fugaz na fantasia da ínsula dos homens, seja mesmo mais ameno assim de mentira! Existir no pega-pega da imoral ilusão sendo “café-com-leite” ofende bem menos; me perco a toda hora porem ninguém leva a serio. Estamos salvos de tudo que podemos desvendar de nós mesmos. Apreciei o espelho como se fosse uma vidraça rachada só para mim, vi tantos tontos meus que quase perdi minha cômoda intimidade, fui flagrado em plena fuga, rebaixei as cortinas dos olhos, cerrei as frestas das hipóteses de me bombearem segredos que me fariam, belo, nunca mais driblar o real caos de permanecer imune ao legítimo.

Ola Trovador

Confesso, suas palavras aclararam meus becos, flagrando gritos que há tempos chacoteiam de mim, até então, fugazes pichadores das beiras do meu abismo. Sinto-me um pouco mais livre, sua carta me trouxe o efeito de justiça, mesmo que essa bata seja redada de um desespero que nos veste, ficaste belo, uma vida sob medida. Seduzo a tristeza que tende a cada dia me fazer mais bem-aventurado. Ando a despejar aflição de graç, porem cada vez mais do alto, gigantesco! Angústia é meu pé de feijão. Ando prestes a rasgar o céu com os fogos de artifício que esguicham da minha solidão! Que dor luxuosa veste esse desamor. Poesia me descreve tombado no chão, por saber que aparento frágil só para correr o mundo de um balão. Felicidade mambembe bolina o caos para caçoar do amar estacionado. Sinto orgulho desse crime, desse feio corte que faço na minha criatura. Não sangro o vão, vazo o que move minha existência. Sinto-me um Deus com o direito de se arranhar em coisas pequenas. Não escrevo o que sofro somente sofro onde escrevo.

Imaginária

Que idade eu poderia armar agora senão essa nossa? Em pleno pódio de um invisível sucesso dos meus trinta e dois anos, amargo no peito o prêmio de um isolamento nobre. Celebro e arrisco, moço, às sessenta primaveras escritas que possivelmente não festejarei. Pareço triste nas linhas dos meus dramas, infelizmente minha vivência só rabisca papel, a vida que é boa, guardo no bolso minutando em guardanapos o assombro que eu poderia ser. Vou para esse meu avelhantado futuro literário, só por temer a morte sem ter prestado atenção no ingênuo. Lógico, gosto sim da invernia que vem, congela e acaba com o belo para abrir uma hipótese para o original, e é ali que estaciono as minhas vontades. Não na dor de quem ficou quieto...Só insisto em permanecer vivo nos calos que não foram espezinhados. Parece arrogante? Sei lá...a dor é mesmo um pouco excêntrica... Mas acredito que a angústia se alça por pura defesa. Claro que sou frágil! Poesia é só um bando de palavras que um peito nerd resolve a matemática. Diariamente ergo um cara em mim, como se arma um fogaréu de São João, que por urgência de vida, até aparenta ter tecnologia para algo a mais que iluminar a festa dos outros. Nada alem, senão o prazer de notar os que envelhecem sem saber. Engraçado, de uma hora para outra você se parece comigo? O relógio acata o ponto de encontro dos alienados? Revelo a ti que tropeço muito no dia-dia, afinal, a sola do meu sonho não sustenta o peso da minha arte. Casarei todas as vezes que temer a solidão, amo sucessivamente “a princípio” sem fim, tanto ao ponto de estapear meu tonto, viajo para fora do meu tato sempre em estado de sitio, e já saio de casa esquecendo algo do peito . Parece carta de biruta, talvez seja essa a tentativa...Mirar muito o alvo ao ponto de esquecer a seta no bolso.

Foda-se um pouco

Impossível seguir sozinho. Diante a tanto silencio. Criarei alguém. Divertiremos a função e talvez assim sobrevivamos a tal mandato. Há muitos postos para dividir, muitas angustias que não podem ser sentidas. Faremos esse trato, em igualdade, pela primeira vez na historia, apresente-se o meu reflexo complementar. A balança demorou pra ficar pronta. Consistia em dividir minhas responsabilidades pela metade. Não é fácil criar alguém, exige tempo, energia. A outra metade designei a o que já havia sido criado pelo meus antecessores. O resto do mundo. O resto do mundo passou a ser Deus. O resto do mundo passou a não ter o que fazer com a borda do complexo. Na favela dos reis antigos a pobreza era uma dor filosofa. Na favela do real o pobre come o pão que Zeus não amassou. Estava procurando um beco para deixar meus melhores amigos, adotei sábios órfãos, o apêndice do real. Que não servia para os medíocres, apareceu como sobra de um corpo sem ilusão exatamente nas minhas maiores possibilidades de me entregar ao maior de todos os ritos: Deus do abraço sincero...o que o mito do meu são me oferecer, eu degusto sem o menor medo de regorjear nosso rascunho junto. Cada rasura! O mundo já se autodenominava céu a tempos. Desde de o recesso. Precisava de um jeito de avisa-los de aquilo era efetivo. Decidi sofrer. O calo do pé do sublime não compete com a dor dos guris do nosso peito. O respeito açoda como pesadelo nas possibilidades de só sofrer. Existir é uma mágica única. Era preciso efetivar e concretizar tal ”bruxaria”. As decisões pré ações, já. Entendi. E como o primeiro eleito a me misturar: Atravanquei com um poeta: - Curumim Deus, porque acredita nas rugas dos velhos? -Porque eles tem as rugas dos machos que estiveram por muito tempo abertos. - Deus que veio célere, por que insiste em quem tem a vivência toda pelo anverso? - Eles, meu infante, vieram com tempo para perambular...eu já vim Onipotência! -Então, diante de tanta submissão, para que a musica? -Para os broncos sem-querer acenderem os ouvidos para mim. -e os surdos? -Conte meus mistérios para eles...os pobres de asneira escutaram o fato do emudecer e durar. PESO 2 A morte acordou de ressaca do descaso do tempo util

O GRANDE CIRCO

1 Respeitável Público... No horizonte de um tempo solto, em um lugar lúdico qualquer, o crepúsculo acabara de rasgar o íntimo do céu para noite embarcar. Um vento embriagado não concedia que a poeira adormecesse no colo do chão da estrada seca, bailando os grãos de terra com endereço certo: os olhos dos cavalos que avançavam exauridos em comboio a pesar as carroças daquela trupe circense. Artistas de vida nômade e existência mambembe peregrinavam a dois dias interruptos desde o último espetáculo em um vilarejo desses com gente de vida amarelada pela falta do que fazer. A caravana era longa, porem a sinfonia suava baixinho, composta pela percussão do sapateado dos cascos, os estalos dos chicotes, o reco-reco das rodas de canela varrendo o caminho, adoçado ao cantarolar da voz da indiana Kavita, a suntuosa amestradora de cavalos, escoltada pela rouquidão do acordeom achincalhado pelo pó do tempo, acariciado por Manjula, seu fiel amigo balofo, de ouvidos mais que absolutos, tocador de, pelo menos, sessenta instrumentos. Como de costume, a fome batia a cabeça na parede do estomago, a comida era rara e servida somente uma vez por dia. Isso para aqueles que não violassem nenhum dos mandamentos daquele picadeiro. Hilário, o palhaço, que de tão bondoso chegava a ser asno, quando a fome batia no bando, costumava lançar sempre o mesmo comentário, a fim de encontrar algum humor para aquela fadiga – Por que não inventam ração para artista?- Ninguém nunca ousou sorrir para aquelas palavras. Frontin, o gigante mudo francês, certa vez, em um espasmo de fúria, tentou esganá-lo mas foi contido por uns quinze. Porem ao se deitarem, todos refletiam a frase inocente do palhaço. Muitos sonhos cadentes cintilavam no céu da alma daqueles infelizes. O talento de cada um extrapolava o pueril dom, era algo mais intimo, a arte refletia exatamente o que o individuo era: “O faquir”, descarnado, magro de si, desconhecedor da dor, “o mágico” que vive das próprias ilusões, mente para si e acredita, “o anão”, receoso das responsabilidades de se tornar alguém maior, ocultou-se da própria evolução, “a bailarina”, barbuda, que rodopia em volta de si mesma sem saber onde quer chegar, em uma infindável crise de identidade, “o gigante”, superlotado de fé, de tanto esticar-se para alcançar Deus, espichou-se demais, e acabou desaprendendo a falar a língua dos homens, e por aí vai. Todos ali são exatamente as imagens das escolhas dadas a própria existência. Em algum momento cruzaram o caminho daquele circo, onde o hábil coisa-ruim, domador de leões, senhor da lona redonda e azul, deslumbrado por furtar e enjaular a feroz liberdade alheia, arrecadava vidas perdidas em suas próprias estradas aparentemente sem saída, em um gesto caridoso de prometer-lhes a fuga das cobranças feitas pelo mundo, em permuta do aprisionamento perpetuo em um universo paralelo, onde ninguém mais carece ser isso ou aquilo; o que se é já bastava como talento e moeda. Assim seguia o bando. À frente, como norte, conduzia o bonde, em seu cavalo quase careca o capataz infausto Funesto. Um sujeito chupado e triste, com uma violência particular. Executava de forma exageradamente criativa as punições dadas pelo Coisa-ruim, aos artistas transgressores. Passava o tempo cochichando consigo o que parecia ser uma nova atrocidade, mas surpreendia ao inesperadamente recitar terno, em momentos nada oportunos, poemas de sua autoria sempre sobre solidão: -Solidão, enfastiada de vagar abatida, jururu, pelos becos soturnos do rubro peito; notando o meu viver apenas pelas frestas do encurtado universo que me trancafiava, arquitetou uma coragem ilícita de me fazer censurar os sonhos superficiais que até ontem me guiavam por um calunioso caminho que me induzia pra bem longe do palácio aonde cobiço me tornar alteza de mim. Solidão que antes não teimava palpitar sobre a existência desse povo excêntrico que enfeza o meu ser, muito menos se aventurava sapatear rechonchuda com sola quente sob meus frágeis anseios de ser lúcido. Idealizou em uma alquimia desastrada, a fórmula de me desvendar a face aos espelhos mais claros e aguerridos que um homem pode se avistar. Nessa troca de olhares do meu estado escuro de ser um falso são, e a iluminação de se saber ser só, nessa trombada do bem e do mal, fez de tudo que sustentara o desespero de alguém sem saída até ali, transformar-se em uma razão de plástico e todo alento de encontrar-se passou a deixar pegadas de ouro em direção a terra aonde meus bichos de verdade poderão ser livres e desvairados. O meu tudo, do mundo nada mais anseia. Nenhum movimento, ou algum tipo de cavaqueira com esse sucesso que os homens indiferentes a si buscam. Solidão ancorou todo o seu sentido no ventre da minha alma, e quem até hoje abrolhava diariamente insatisfação, viu desabar do céu um temporal de paz, e ali a sanidade enfim lavou-se, fez-se fonte de seiva para minha criatura mais luminosa. Solidão hoje é a ditadura charmosa do meu embananado povo, anjo da guarda de todas as minhas faces, do meu Eu antes ateu, se fez divina. Essa sensibilidade que Funesto apresentava, espantava ainda mais a todos, ao ponto de fazer até Joaz, o aguerrido atirador de facas, pensar pelo menos cento e quatro mil vezes antes de tentar a escapada do circo e conhecer que perversidade aquela criatura tão sentimentalista, na fúria, seria capaz de alcançar. Isolado sempre uns quarenta metros a frente do grupo, Funesto, com seu nariz colossal, desvendava e apontava as direções a seguir. Conhecia o aroma de todos, e de longe farejava feito capeta qualquer um que tentasse escapulir. Na retaguarda de Funesto, seguiam montados os quadrigêmeos idênticos, jovens albinos, de pêlos e cabelos enferrujados, pele juvenil ainda abarrotada de espinhas idênticas. Também homens de confiança do coisa-ruim, criados em cativeiro por ele, já que foram barganhados em um comércio de antiguidades, em um povoado no alto de um monte, recém nascidos, ao preço de um papagaio envelhecido que lia a mão do público, mas perdeu a valia no show após ser flagrado repetindo a todos sempre o mesmo destino- O senhor teme morrer, mas não se deu conta que nunca nasceu, és um grande bastardo de si. Morreras sem ti, forasteiro. - Por incrível que pareça, essas palavras deixavam todos meditativos, sem réplica, afinal era no mínimo bizarro escutar aquilo de um passarinho verde. Tanto que, o pai dos gêmeos, após escutar o sábio segredo da ave, não pensou duas vezes em trocá-la pelos filhos. Quando guris, os gêmeos até foram distinguidos pelo nome, mas quanto mais cresciam mais parecidos ficavam, até chegar ao ponto de ser impossível notar qualquer tipo de diferença entre os quatro. Foram domados para serem os oito braços do coisa-ruim, assim sendo, faziam todo tipo de serviço, desde averiguar o que acontece nos bastidores, alimentar e limpar os animais, manutenção das carroças e equipamentos, venderem pipocas e doce durante os espetáculos, bilheteria, eram tantas as funções que muitos desconfiavam que não houvessem apenas quatro e sim quarenta gêmeos. Tinha-se que ser muito safo para arquitetar algo contra o coisa-ruim, pois sempre um desses clones enfeitava o ambiente. Os gêmeos revezavam-se na vigilância; enquanto dois escoltavam atrás de Funesto, os outros dois rodeavam para ver se acontecia algo fora do cotidiano. As carroças do comboio mais pareciam grandes trailers de madeira, construídos pelos próprios integrantes da trupe, tinham janelas, camas, até um pequeno canto com uma cortina de trapo com balde para banho e necessidades. A primeira carroça, na seqüência dos gêmeos, é a dos palhaços, onde habitam Hilário o clown tolo que confia em qualquer espécie de gente, sua mulher Antonia, contorcionista, menina portuguesa boneca de trapo, e seu irmão Hilariante, um palhaço existencialista, que não tira a maquiagem nem para dormir para não deslembrar que vive de mentiras. Ah, Hilariante abomina risada sem dor. Acha que a felicidade só é autêntica para aquele que também abriga afetuoso a infelicidade. Hilário e Antonia passavam horas conversando, enquanto o irmão calado, impenetrável em um coma induzido de solidão, voador, sempre vivendo com sonhos alem dali, conduzia sereno o cavalo. Hilário e a boneca valiam em mimar Hilariante, cobrindo-lhe as costas com a manta bordada por ela, servindo-lhe café e torradas roubadas. O casal conversava ignorando a quietude do palhaço, mas nunca lhe deixando esquivar do cafuné duplo. Estava claro na janela daquela alma, que o fardo do humorista questionador era muito pesado. Os três conviviam em completa harmonia. O amor era tão recíproco, que era temível o olhar de bicho de Hilariante quando se tratava de algum infeliz aproveitar-se da bondade de Hilário. Não são poucos naquela trupe que tem cravada na pele uma mordida do ataque do palhaço em defesa do irmão. Após a instalação dos palhaços segue à carroça de Joaz, atirador de facas, moço, belo, viçoso e incorruptível. O primeiro a resguardar os direitos da trupe a qualquer custo. Uma espécie de revolucionário, sempre com idéias de melhorias para o grupo. Matuta diariamente uma estratégia para mudar a situação de todos, uma fuga, algo que restaure a liberdade das almas entregues ao coisa ruim. Certa vez, teve o dedo mindinho decepado por Carcará, outro impetuoso capataz, após ter sido denunciado como o responsável por atear fogo na jaula escura onde eram trancafiados por dias os artistas que fracassassem em seus números. Joaz mora com Ximena, sua esposa e assistente, de longos cabelos rubros e sobrancelhas fortes, sempre trajada de alongados vestidos de pano, ombros largos, a mais formosa castelhana.. A mulher que, por amor, coloca diariamente uma maça na cabeça para seu homem de olhos vendados arremessar-lhe um pontudo punhal de trinta centímetros. Foi assim que se conheceram, uma apunhalada da paixão a primeira vista. Ele, convidava para o seu numero alguém da platéia para amarrar-se em uma roda giratória em que lançaria os punhais. Em um desses shows, Ximena, filha de um poderoso comerciante de uma província espanhola, foi à voluntária. Bastou apenas um olhar para Joaz deixar evadir-se toda concentração e segurança adquirida em anos de treino. Ao avistar Ximena, amarrada na roda do seu destino, teve a certeza de ali estar à senhora de tudo que fantasiou para si. Sentiu o que nunca havia sentido. As pernas cochilaram de repente, os braços não concordavam com mais nenhum pedido , o próprio espírito perdeu a ordem. Era necessário naquele segundo reorganizar a fila dos seus sentimentos atordoados com a visão da terra prometida, a cara-metade. Impossível. Veio o medo. Medo de errar e apunhalar a figura mais certa que já havia apreciado. Não deu outra, Joaz acertou a faca... ou pior, errou a faca na perna de Ximena. Para a surpresa do peito, ela apenas gritou sorrindo, entendeu o recado. Ele, capturado pelo pai da moça, e sua morte negociada entre o rico e o coisa ruim. Porem ela, reconheceu o amor justamente na falha de Joaz, e tornou da faca, um buque. Viu no medo do homem de perder, a demasiada vontade de ter, e a fragilidade do forte tornou-se a maior prova de amor. Ximena roubou ouro do pai, saldou com o domador a vida de Joaz pelo triplo do valor e embarcou na trupe como sua esposa, lógico que pagando pela nova moradia mais um punhado de moedas ao coisa ruim. Hoje eles tem, Erê. Um nanico sonhador de dez anos. Yang, o chinês ilusionista, sempre que vê o garoto a brincar sozinho pelos cantos, afirma: – Um garoto de futuro. Olha como brinca com o nada. Desvendou o segredo! Pequeno assim e já sabe guardar a realidade nos bolsos, entendeu tudo! - Pois Erê vivia em um mundo particular. Ótimo criador de fieis amigos invisíveis, vencedor de grandes combates com pedras miúdas que em segundos tornavam-se enormes espectros quase indestrutíveis, uma flauta lhe abria um portal secreto onde existia um circo bem mais fascinante e livre que aquele, e é claro, melhor amigo do leão, seu companheiro das horas que não passam. Separados pela grade, conversam diariamente sobre como é curioso ser raro. Tudo isso para enganar a solidão de ser a única criança e o único animal dali. Por motivos de gastos e estrutura, era completamente proibido procriar no circo. Joaz e Ximena esconderam do coisa ruim a gravidez, ninguém sabe como, mas quando foi percebido a presença de Erê ele já completara cinco anos. A princípio o tumulto foi generalizado, dada a ordem de despejo, e o guri deveria ser deixado pelo caminho. Devido à admiração que todos tinham por Joaz, iniciou-se uma rebelião em que, pela primeira vez, o coisa ruim tragou o orgulho e preferiu não continuar o motim. Erê ficou, com a condição de que o menino não se alimentaria da comida do circo, porem mais uma vez sem explicação, o bagre é um dos mais rechonchudos da trupe. O tecido sombrio da noite já completamente estendido no varal do céu. A caravana marcha sob a cabana do breu. As estrelas de castigo atrás das nuvens insanas em declamar na cachola da trupe versus de chuva. E foi o que aconteceu, após a algazarra dos raios, as meninas dos olhos de Deus lançaram-se a sina. Seguindo, ao primeiro estalar das gotas no teto da carroça das três Marias, a irmã do meio Maria Mole, contorcionista, corpo de borracha e espírito de pedra, já desencadeou uma quadrilha perversa de suspiros: – É o que me faltava... chuva! Deus adora aparecer. - O que Maria Mole tinha de maleável com a carcaça, tinha de rígida na alma. Era infeliz por natureza. Ao nascer, esqueceu de choramingar, apenas olhou com cara feia para parteira como se dissesse:-O que eu estou fazendo aqui. Foram varias às vezes em que suas irmãs a encontraram debatendo-se dependurada em uma árvore com a corda no pescoço, mas seu corpo de manteiga relaxava até no suicídio ao ponto do laço não conseguir esganar aquela vida mendiga. Enquanto a Mole reclamava, Maria Lira, a caçula, assentou a cabeça para fora da janela, cerrou os olhos em direção ao céu, e naquele beijo, deixou a saliva da chuva findar em sua boca. Ela era do céu. Tinha a doidice de pular de pedra em pedra, a desviar-se do chão e das seguranças que vinham dele. Em seu numero, bailava em um tecido que desabava do alto da lona, se enroscando naquele cipó de pano como se tivesse orgasmos nas tranças de algum Deus de mechas longas. Experimentava um amor biruta pelo ambíguo mexicano equilibrista, Carlo Alderiva, sempre na corda bamba, não decidia qual das Marias ele mais amava. Maria Lira fazia da coragem seu instinto, pensava dez vezes antes de pensar em pensar duas vezes para fazer algo, simplismente atirava-se ao léu no viver. Ao contrario de sua irmã mais velha. Maria de Barro, viúva, fincada no tempo e na terra pela dor da morte de João, seu marido e companheiro de trapézio. Maria voava de lá para cá, venturosa, sempre na garantia de ser apanhada em pleno vôo pelos braços austeros de seu grande amor. O falecimento de João aparou suas asas, furtou-lhe a altura, removeu sua rede de proteção, esfregando em sua cara um solo de solidão. Plantada, caída, enraizou a si na terra seca da saudade, sua vontade de viver enterrada a sete palmos, ao lado do amado. Maria de Barro estava grávida de João, e ponderaram não ter o passarinho dentro daquela gaiola circense. Assim deu-se a tragédia. Planejaram uma fuga em um dia de espetáculo, e em um dos vôos os dois vararam a lona em direção as árvores. O público nada entendeu, até aplaudiram o salto espetacular do casal, ao contrario do coisa ruim que, no mesmo instante, apenas com um olhar mefistofélico ordenou aos capatazes a captura dos trapezistas. Os amantes fugiram pela floresta em grandes saltos de tronco em tronco, até serem surpreendidos por uma longa rede atirada pelos quadrigêmeos estrategicamente posicionados no topo de uma árvore. Todo o plano de fuga já tinha sido entregue ao coisa ruim que teve pouco trabalho para recapturá-los. João ainda consegui desviar-se da rede e seguiu, mas ao perceber que Maria de Barro se emaranhou nas cordas, perdeu a vontade de prosseguir a fuga, pois não queria o vento da liberdade soprando no rosto se esse rosto não tivesse encostado no da passarinha. Pouco depois, o infausto Funesto voltou com o corpo já sem o espírito do homem voador. Para todos, Funesto insistia em dizer que João caiu do alto da árvore durante a fuga, algo difícil de acreditar. Imaginavam apenas o apuro que atravessou o trapezista na mão do capataz antes do fim e que doce poema teria lhe inspirado aquela crueldade. A amargura abortou o sonho de construir um ninho fora dali, expulsando, antes de pronto, o filhote do ventre de Maria de Barro. Dali por diante, apenas debruçou na janela da frustração a ver a vida passar. Nos baques e lampejos dos trovões, nítidas no revés da penumbra, as nutridas gotas uniam-se, com a intenção de emagrentar na terra, e ensopar os alongados cabelos do chinês que seguia nada amolado aos golpes da tempestade e do vendaval, na cela do cavalo Solidão, sumindo e surgindo conforme os raios descortinavam a noite, Yang, o ilusionista, o mais sábio, estimado, e enigmático de todos. Não possuía carroça, apesar de sempre lhe ser oferecido à construção de uma. Sua casa carregava entre o peito e a mente, e as bagagens nas costas, um saco de lona, e a vida inteira guardada em uma mochila costurada pelo tecido do conhecimento armazenando invisíveis lembranças. Yang tinha a mania de desaparecer do circo. No início suspeitavam de sua fuga, mas o vaga lume, reaparecia sem nunca explicar onde encontrava-se. Todos sempre intrigados, pois se fugia, porque voltava? Se não fugia, onde estava? O mais perfeito dos aconselhadores, inexplicavelmente arranjava tudo que fosse necessário para o bem da trupe: Remédios, raízes, alimentos, baralho, ferramentas, amoladores, roupas, panelas, e outros bens. Isso tudo sem cobrar moedas. Para não haver abuso, Yang conseguia apenas o que julgasse ser extremamente necessário para o indivíduo. Ninguém imaginava onde ele conseguia todas essas coisas. .......RASCUNHO -Aprecie um pouco a formiga a atravessar aquele pedregulho – O mágico olha cauto até o inseto cruzar a pedra e sumir de vista. O chinês continuou. - Ela a principio não desapareceu, apenas está oculta atrás da pedra! Agora com a mesma fé que você acredita que ela existe ali, pense que ele não existe. Você não a vê agora, e isso é arruinar a certeza de sua existência. A formiga dependerá apenas da sua crença, imaginação materializada para permanecer na sua realidade. Aguarde, ela voltará em cinco segundos. O mágico duvidoso espera atento para ver se a formiga retorna. No tempo exato de Yang, a ela é vista novamente. O mágico sem entender o feito: - Como isso? È difícil de acreditar! O chinês rebate sereno – Mas você está acreditando, é só isso! A formiga está aqui nessa nova realidade que constituímos agora. Mas também está ali do outro lado da pedra, presa na realidade antiga. E alguém que cruzá-la nessa primeira dimensão que a encontramos a verá ali do outro lado. – O chinês levanta-se e da um tapa na formiga esmagando-lhe. O mágico besta: – Por que isso? – Nada morre se partimos do ponto das construções ilusórias: de vida, morte, e existência. – Yang levanta a mão e não há nenhuma formiga ali.- A existência é uma ficção! Mágico: - Me parece um bom truque! Onde você a escondeu? Chinês aponta para o outro lado da pedra e a formiga reaparece. – Passeamos, entre vidas, por varias dimensões de realidade. A formiga ressurgiu, pois voltamos a ter fé que ela estava ali o tempo todo. -O Mágico passa a mão no rosto encucado, temendo estar realmente acreditando naquilo. O chinês ilusionista continua: - As coisas estão presas no instante, com a figura que criamos para elas. Faça o seguinte: freqüente uma igreja que você construa somente em sua mente, levante as paredes, pinte, crie os santos que necessite acreditar, um altar imaginário, grandes portas e vitrais. Depois passe a freqüentar essa igreja diariamente. O primeiro passo da desconstrução da realidade ilusória é a construção de uma fé própria, para que você possa ser o Deus das coisas que você acha que vê, toca...imagina, o proprietário da existência de tudo que te cerca, mesmo que esteja preso somente na sua imaginação. Nada vai ser real sem sua vontade. A principio isso parecerá loucura, mas uma hora olhará para si como sendo esse Deus e verá a lucidez ajoelhada rezando pelos teus mandamentos, repetindo suas palavras para a realidade dos outros. E nesse instante a ilusão achará um sacrilégio te enganar. Você sentirá aquela mesma sensação que a de acordar no meio de um sonho e trocar de realidade. O que existe afinal, o que viveu de verdade dormindo ou acordado? As duas coisas roubaram tempo e espaço da tua vida. O sonho e a realidade tem o mesmo valor. O principal é que cada um vive na realidade que arquiteta para si. Eu estou aqui na sua frente, conversando com você, mas também estou do outro lado do mundo, na realidade do meu filho, nesse mesmo instante, brincando com ele, que pula nas minhas costas gargalhando. Estou também no alto de um monte, diante de um por sol roxo, uma senhora albina ao meu lado, do outro um grande amigo que fiz na estrada da vida, a gente conversa agora sobre a força de um sol que nunca repousa, fecha os olhos aqui para abrir do outro lado do mundo, enquanto ao fundo uma pequena menina observa curiosa três ovelhas. Você acredita em mim? Mágico confuso: – Não sei! -Chinês da um tapa na formiga e diz:-É essa resposta que criará a veracidade para o seu universo. São tantas a realidades possíveis de se freqüentar ao mesmo tempo. E sabe em qual delas eu realmente estou? Em todas que acreditarem que eu estou. Aí você atinge a consciência de freqüentar varias ao mesmo tempo. Tudo é ilusão. – Yang levanta a mão e vemos a formiga esmagada. Ele coloca a formiga na palma da mão e fecha. -As vezes você já está morto para alguns, para outros você acabou de nascer. Não existe somente um tempo, e um espaço para as coisas. Estamos presente em milhares de realidades ao mesmo tempo. Presta atenção como algumas pessoas gostam de você, outras te acham um chato, outras arrogante, uma mulher se apaixona, outra não, cada um vê e seleciona somente uma própria realidade. Somos seres espirituais vivendo uma experiências terrena, e é só fazer malabarismo com sua existência, não vendando teu espírito com as limitações da matéria presa no tempo. Nem a terra, nem o sol, nem a lua, são redondas. São os olhos, que por não alcançarem o infinito, fazem a curva. Confuso, mas essa é a idéia.

ai

Em mim, uma felicidade desapontada caminhava em busca de algo que lhe fizesse sentir a si. Tudo estranho na cidade do meu coração. Um peito de repente despovoado. Uma grande fuga se sucedeu ali, no mundo onde me tornei um Deus solitário sem saber tratar a natureza desses sentimentos forasteiros que residem em minha existência. Guerra declarada da dor, capitã daquela nau de anseios perdidos, versus uma felicidade atrevida por afrontar a amargura sem esquadrão para vencer aquela poderosa agonia que domava meu íntimo. Eu, durante meu cotidiano apenas assistia enxovalhado na cama pela angustia, sem saber como amparar aquilo que era só meu.

Ave

Meu ser avoado, Pousa no mundo O astro que gira-gira Estraga meu louco Canto quebrado, Alma sem fundo A vida que pisa-pisa Enfraquece meu touro Tonto, corro tanto Desato ingênuo pranto Nem tão cego nem tão santo Perco as penas borro o manto Cálice, quebro calado Fajuto sábio armado Não me entrego nem te paro Deixo o poema aguçar o faro Aos pássaros paciência O céu volverá a imperar A queda do chão abrirá seu riso O receio de um homem voar

Homem de Lata

Minha alma de chumbo Pesa meu riso no fundo Do mar dessa solidão Sou latinha chutada criança desastrada Que tranquei em um canto de mim Não sentir me rouba o sentido Sem abrigo, meu amigo é o vazio Meu sorrir adormece ferido Sem abrigo, meu sonho partiu Converso sozinho sem ter o que falar É tão triste no espelho não se amar Enferrujo no silencio me guardo para depois Meu coração fugiu, sem pistas não disse onde foi Não sentir me rouba o sentido Sem abrigo, meu amigo é o vazio Meu sorrir adormece ferido Sem abrigo, meu sonho partiu

Vozes

Olha só, o Caio se move. Fuma um cigarro atrás do outro. Nada acontece. Perece existir só para mim, porem ele não me vê. Não tem nenhum espelho por perto para que ele se note, apenas eu observo sua estranheza. O Caio não parece bem, nem tão mal também... Horas ali sem escrever nada, sem ninguém lhe pedindo um papo. Daqui ele me parece sozinho. Para quem nesse segundo esse sujeito existe? Sei que se ele morrer vão chorar porem, ele está ali vivo: já tratado como morto. Navega no mar do próprio pranto! O horizonte afastado sorri ironicamente com a esquina da boca, como se divulgasse que esse rapaz não é capaz de ter paz nas pontas dos dedos para encostar abrandado o fim da sua passagem por uma vida irrequieta, orgulhoso de si. O que teria sido a história dele até ali para nesse momento estar tão asilado? Ele atravessa pelas lágrimas, em pleno maremoto dos seus desencontros, em busca de catar todos os traços abatidos pelo desleixado do homem que foi. Será que aguarda a barca do renascimento? Cadê o seu ontem? Nos olhos Mareja uma fé para lavar o olhar. Posso pedir para o Caio sorrir? Posso sim, mas prefiro não fazer barulho para não interromper o silêncio do seu blecaute. Tipo curioso. Em pleno nada, nada faz. Deixa o tempo passar, Caio! Deixa que bons ventos lhe trarão anseios. Acho eu! Caio? Caio? Ninguém fala com você ou você que não escuta ninguém? Suspeito que seja arrogante.

Nosso Voar Particular

Vai que a vida fosse só um vestido De uma guria atrevida que escala os próprios calos Vai que eu fosse só um ponto dessa costura (postura) Da renda, da franja branca que se suja nos baques Vai que eu envelheça no detalhe da trança da linha E não navegasse rumo ao fardo dos laços Vai que a renda seja erguido por amigos O que valeria chegar sozinha ao outro lado? Meu traje se faz de juta e abraço O tecido da sua pele alumia meus traços (passos) Nem o tombo de um vento inventará mais triste Que a veste do tempo cosida sem todos Deixo o peito, faço um teto para voar Jõao de barro, sem terra, nem céu...perde Deus versa a veste da vida sem cela...pra sonhar

Carta 2

Amigos Imaginários de si mesmos! Caro, O dia está em retirada, tropeça do espaço uma rede negra, fecha-se as pálpebras do horizonte, hoje, a boca da noite ingressa aos poucos e, com acanhadas pincelas sinto meu estado de espírito trocar de cor. A NOITE, sempre ela, amigo, abre alas para o principio da criação. Mas o que ela trará hoje? Qual o próximo vocábulo escrito? Esse processo, essa dependência dessa agitação de sentimentos quebra o sigilo do peito - letras, vida, pessoas, tudo começa a transformar-se para o início da queda livre de uma vida no papel. Intriga-me de como se abre as cortinas da composição, o despertar da criação às vezes tão escassa. Será que hoje vai dar samba? Quando desperto costumo me perguntar isso... Será que receberei a visita desse abalo que move minha arte? Tenho arrazoado muito pouco sobre o mundo de fora! Não me interessa qual fortuna me receberá de braços abertos, ou como os fatos vão se encaminhar pelas ruas, telefonemas, eventos, tudo me soa apenas como ocasiões externas anãs a serem ignoradas... Tranquei-me! Sentado, sensato, pela primeira vez na rede do sossego, só aflige a espera da musa que me fará assentar aqui e descrever minhas paisagens delirantes. Existe uma forma de trancá-la em mim? Criar essa energia inspiradora em cativeiro? Os dias de espera me atacam, atassalho-me quando falha a poesia e cancela-se o baile da sutileza de notar a vida e jorrá-la no papel; esses sim são tempos rasgados do meu calendário. Agora, trovador, o crepúsculo caminha em minha direção enquanto escrevo essa carta, será que a senhora da criação me trará novidades que me farão continuar a minha peça? É triste deixar os personagens me esperando para poder continuar seus destinos! Deus não pode se dar ao luxo de tirar férias por falta de inspiração. Minha vida não pode parar, muito menos as dos meus personagens, sujeitos tão mais bem desenhados que eu. Cada linha que ganho na minha obra entra como mais um fragmento do meu testamento! Escrever é o único acontecimento que pretendo participar honestamente na terra, e a única fortuna que posso deixar! Entendo o seu rasgar, reler, atassalhar, também faço isso! Mas com a intenção apenas de não deixar o que fui apresentar-me como mixaria. Afinal, essa opção tem nos custado caro, merece meu cuidado e principalmente ser lavrado com respeito! No final de tudo, a reunião de toda essa papelada será o grande segredo que revelará o que fizemos aqui. É bom apagar pedaços desnecessários, abrir espaço para o que realmente deve ficar. Não que devemos caçar a perfeição, mas o descuido com a arte já reina por aí, se posso de certa forma me poupar de contribuir com essa parte! Não sei se sou mesmo esse fiel personagem das cartas, na verdade, tenho cada dia menos imagem de qual desses tantos sou, porem, o que agora anota a arruaça da minha existência é o único a ser levado a serio! Se não sou esse, pode ter certeza, caro amigo, ele é o único a que pretendo imitar por muito tempo! Lembra de quando troçávamos de que você era meu amigo imaginário? Deve se lembrar mais ainda que teve gente que acreditou! Rimos durante muito tempo desse episódio, porem, o tempo passou e voltamos para o mesmo lugar. Será que não somos dois amigos imaginários? Quem é você poeta? Essas cartas entregam tanto o quando nos perseguimos diariamente. Nos encontramos aqui sempre diferentes e desconfiados de si mesmo! Não somos, e sim nos imaginamos! Alexei e Branka me aguardam sentados, vou tentar continuar um pouco mais suas sinas! Sabe qual o mais incrível? Se esses personagens soubessem que o fim que tenho para ele é triste, será que estariam melhores sem mim? Com toda benignidade, Caio

... mais essa

O mundo me pediu mais calma A alma me cobrou o tudo No fundo o que sinto é falta Tão vento soupro noutro rumo São tempos de seguir os fatos O amor fica quieto e surdo No centro da casa do meu feito Na sala da saudade minha falta de estar Se pinto uma lembrança se apaga Não minto, sua herança me acaba Meu ser é um selvagem índio sem jeito Desvenda a cidade do meu jeito sem trauma Essa dor já é da solidão, um pão na mesa, na cama um vão Teu cheiro me volta da razão, nosso corpo um museu do coração

,,, solto

O que é uma passagem aberta para liberdade para quem teme o indecente sorriso destino! O pedófilo do destino abusou da minha juventude, tocou com segundas intenções a minha parte mais intima: violentou meu sonho de menina. Nessa insônia do meu coração! Eu, sonâmbula, peregrino meu ser pela trilha da ilusão de existir. Entre os sopapos do dia-dia, o cigarro que golpeia meu futuro, o whisky terreno da minha imaginação, faço do escuro um ar puro para respirar meus afligidos anoiteceres de choque com esse carteiro que me confiou para o endereço de uma vida tortuosa.

Carta 1

O que pronunciar depois desse teu beijo na testa da minha eterna confusão: “A vida não pertence ao tempo”! Fico feliz por você, Pedro! Que delicia trafegar pelo passeio público com a chave de casa nos bolsos! Vive um momento único! Isso sim é livre-arbítrio! Sinto-me longe desse progresso. Não que eu não volte para o meu habitat natural; durmo quase que diariamente em meu próprio conchego. Apenas tenho a sensação que não decoro a direção de onde vim, não reconheço as cores, os vizinhos, o jardim da casa que volto, o cão não faz festa, as cartas do correio sempre sem destinatário - é preciso sempre convencer a porta a me deixar entrar! Um eterno começo! Caí na moda do meu próprio “Homem de Dentro”. Quase como se entrasse no mundo com essa tal janela debaixo dos braços e, quando preciso voltar, tento encaixar a mesma vidraça em lugares esquecidos, uma amnésia existencial. Ao carregar esse portal, por medo de me separar desse que te escreve, acabo como um emaranhado de ilusões e lucidez. Falta-me inteligência ou bom senso para não gastar minha seiva com todos. Já broto como se não fosse ser entendido! Narro que sei algo que muitos não percebem: O ponto exato, a alameda do grande encontro; mas isso é confuso, chega a ser arrogante. Como posso saber o caminho de volta se não aprendi a deixar um só “caio” em segurança caso o mundo me furte? Muitas vezes me flagro com uma mão na frente e outra atrás, envergonhado, sem ter para qual “meu” ligar para me catar. Casta solidão! Viajo com todas as minhas tribos, levo o meu íntimo ao shopping do mundo... cigano confuso ou pop...sei lá! Minha sensatez se confunde com a própria alegoria, acabo por desfilar sempre na rua de trás da apoteose, longe de um céu ou um chão que se abra para “me ver passar escrevendo coisas de amor”. A queda e o vôo vão por uma avenida sem público. Muita festa do lado de lá de mim! Como competir comigo mesmo? Meu teatro, nossas cartas, e outras pequenas peripécias que faço com as palavras são minhas únicas docas! Talvez por isso que me sinta sem casa: por achar que sou locatário da arte. Mas se esta mesma vive em eterna mutação, é obvio que é impossível reconhecer o endereço de um último poema! Conto meus abusos para ti, porem, para eu mesmo ouvir! - Ah, Caio, quanta bobagem!!! Mas sabe, padre poeta, confesso que é exatamente aqui e assim que eu queria estar: Confuso e confiante que esse pesadelo, ao alvorecer dessa alucinação que tem sido assistir esse jogo dos homens, a vida se revele como um belo e aguerrido sonho! Bom saber que está tão bem, e que estamos de volta, companheiro! Quantas cartas estão por vir, quantas revelações já existem a serem catadas por nós mesmo aqui nesse nosso altar? Abraços aliviados, Caio

Nada de novo

O que te arrebenta é exatamente o que fomenta minha eterna busca entre tua falta de coerência e tua lucidez. Fácil te olhar de longe, amar-te aos montes, às mortes que me são trituras em carnes de assistir. Infringir o preço à minha tara descarada de talvez nunca te desvendar e ainda assim insistir na ambigüidade na gana da minha \ talvez tua\ persistência em achar algo que refaça o que desfez...em ti...em consequência e mim. Ver-te das cinzas mais uma vez vc com tua desfaçatez parir-se sem saber porque. E ainda cega sigo em reza, pois só a gratidão de semelhantes tão opostos fazem da minha vida e ira mais sabor, mais torpor, mais amor.

Borrado

Pisei na lama do que fui, estou até o pescoço obscena de sombra Não há onda que afogue o afago pela solidão Marchar sem deslize é pular os recados divinos Estou concluída para boiar nos restos ricos dos riscos de mim

...

Por onde navega o guri, o meu fugaz moreno? Biruta,me escuta, sua boca escorreu-me um terno veneno Por que terra o varão esparrama o seu suntuoso melado? Suspeito, em outro peito, porem por respeito só ajuíza ao meu lado Senhor do meu surto, titulo do tumulto que furta meu sono Vago tão sem bagagem, árida na estiagem, lousa fraca sem ti Não há fundo no mundo se ausência na linha da palma morar O afeto é assim, zomba aos berros de mim, por não saber te assentar O meu lado flor, hoje é fruta de dor, manga amarga, angustia do pomar Rastro triste deixo ao chão, as cegas nesse vão, solidão é meu lar

Silhueta

Quanta nostalgia para articular uma solidão. Estou aqui a ingressar em uma primária pintura! Armazeno esse bilhete para exceder a desesperação de cavalgar em qualquer silhueta de arte. Que penúria é essa? Quem é esse infindável diário que me aposto como se não existisse risco, apenas desventura de atirar para além algo que em toda alvorada não me pertence. Procuro palavras, musicas, películas e agora desenhos que amenizem minha falta de tamanho nessa vida. Será um tipo de desespero? Com toda fé digo que sim. Penso nisso em tempo integral, entre cigarros e álcool... Penso em figuras dramáticas, tento impetrar sentimentos, mas quem sou eu dentro de tudo isso? Às vezes ajuízo que sou, entre as minhas criações, o que menos existe. Não digo “mentiroso”! Apenas ocupo minha estação com o sentimento que invento para vestir as linhas da vida somente nas caveiras que fantasio. Não sou grotesco, só quase não existo. Experimento que chegar nesse profundo da criação não passa de uma tática, sei lá, uma astúcia emocional!!! Prova disso é que arrazôo muito antes de armar em cada linha! Fazer arte é um futebol injusto onde só ouço o apito final quando me sinto satisfeito. A vida é mais grave, e nessa, covardemente nem surjo do vestiário. Minha falha humana está camuflada atrás da demora de cada vocábulo que ajusto. Já no habitar sou ligeiro, na maioria das vezes, explano equivocado, sem oportunidade de voltar atrás dos ditados fúteis. Minha essência física é uma calúnia e a artística um teatro.

...

Sabe aquela vontade de tomar um banho rápido, descer as escadas correndo pra trombar sem querer na primeira esquina o maior amor da sua vida? E as esquinas vão passando, e todas as pessoas passam sempre por um fio do seu ombro, e ninguém bate de frente com você, quase como se elas se sentissem salvas por conseguir ter desviado de alguém tão corajoso e sedento por se entrelaçar em algo de verdade que chega a assustar. Minha vida tem sido assim! Tento me encontrar exatamente onde todos desviam

MAdri

Se aqui dormisse uma fiel solidão Enfim no agora um mundo foragido No outro canto o que pensaria mais alto Se todo tempo me teme inimigo Um passado bem vestido me faz companhia Nessa ausência ferida, abrigo da ilusão Distrai o que eu já tanto temia De vento em vento deixar levar o meu “são” Nada pode abrir minhas verdades Nesse báu que tragou o meu ser Lanço ao mar a única passagem Ao horizonte lembrar o que é meu

Bêbado

Meu sonho triste sem rito se vai não finco o vento ao Sol de um velho cais vão largo aconchega o tanto faz em um santo canto encontro o jamais Entre tantos pontos guardo o que possuo tão torto navego o pranto me tumultuo lado errado, o solto quebra onde fluo exato e morto meu voar, é o que destruo Essa coragem que me cega as dores linda estação de lavrar os amores Melan-alcoólico jeito de perder as flores rasgo dom com o suicidar das cores A vida em preto e branco.

Feliz Adversário

Teu nascer lança meus pés aos ares, distribui meu sincero ao vento Arranca-rabos, banzés, são migalhas nesse dia de folia da sua existência Hoje meu SER, somente bagaceira para essa festividade que és a morena germinar Folguedo desânimo, choradeira e desengano, celebram nossa desunião No cá, tudo merece empacar, pra minha guria a avenida de mais um tanto de vida cruzar Frida do meu calo, nessa data tão querida, és câncer que me praticas feliz. Me diz no então, qual mão da sina abro para nessa nova idade o acaso nos bailar Nesse poema: fresta de felicidade alcança teu seio brando donde garoei meu melhor amigo

O Nó

Se a saudade ao revés, num baque, Por fim estender as mãos a minha dor E a distancia, senhora do horizonte, Em seus desacertos, e tropeços, sorrir para os desfechos e nossos corpos ... descompor Haverá nó maior?... vão em que minha solidão brotará Entre quebrar o que esteve, e aguardar o que navegou? Tontos os prantos em um mar de tanta falta desaguarão.

Deus Viu

Talho os Deuses do dom dela Meus trapos retratam o que a rainha é capaz Enquanto o meu tanto ladra minha face Fotos do instinto revelam a dor Esposa, chupim dos ânimos na trombada Bicho, retorno ao nosso caso Só ao longe o amor tem horizonte Só no caos notamos os dois Agreste é o desejo de cativar com os pés no chão Foi o tempo do que o caldo compôs O que a vida nos frutou o mundo vendeu Na lapide do nosso encontro, escrito: Deus viu.

NANA NENEM

Criatura com vista ao amar Arma e a cura a cria que avista O menino dispara a cada sol A mulher só, volta a ser conquista Desleixado dom de cuidar bem assim Queixo quebrado na porrada do pai-chão Come mosca paga a lingua Dança em si sem lavar as mãos Pode santa comer muito O vão que o diabo amassou Canta solta loira andorinha Andarilha livre na estrada do passado Sua ave sente e abre asas Teu jeito é um lindo amigo Se vovô soltou da cabeça o passarinho Lavo meu pranto em um Antonio abrigo

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Um abraço ao Deus que pisa no pé do meu céu Um descaso da nuvem que amacia meu desprezo Rasgo o trapo da gente cedida aos ventos vendidos Costuro o corte das dores rendadas de mel

VENENO de GATA

Minha gata me quer perto dos cães Mas esquece que é impossível tirar o veneno da minha re-ração Indie-gestos sumirão a cada abocanhada ... Eu avisei: Não adianta morder o que se é pequeno para engolir... Boa morte na sorte (ou vice-versa) Nada real é servido de bandeja Nada natural foge da Bandeira...de si

... sem volta

Se hoje uma vida ferida vem com tudo me seduzir lá do fundo do poço da minha coragem, com uma serenada pra me contar que posso desistir...Após tanto credo em um dias mais mansos, uma alma mais em paz, colher as frutas do tal de dom, mereço me desapegar do fim das coisas. Finito sempre fui, isso sou eu, nem que eu almeje sei me deixar tombar pelo caminho. Vou amar. Ser a bravura de me arruinar pelos meus becos luminosos de SER até o fim. O que não sei é desapegar do meu bucólico império felizmente abatido, habilmente capitão das fraquezas alheias. Vou que vou, como penacho broto no córrego do ar solto da boca sublime de um vento. Vou chegar lá... perto! Contornar o quarteirão dessa vida importuna.

Dia de peça

Em que palco de mim posso estrear meu entusiasmo, se no fundo do que sinto ensaio grandes bobagens? Muita biografia em branco, gente cedendo o próprio pranto e o gás de sonhos falsificados, aroma de veneno vindo do bafo de tantos... Tenho em minhas mãos uma espada com sumo, sangue, seiva cômoda do corpo de qualquer engano que feri atoa. Essa nossa tal pretensão de renome mancha o cândido tecido da solidão. Tenho sentido uma esfinge em conviver comigo mesmo. Não sei me entreter ou me agitar sem ninguém por perto. Será que gosto de aparecer ou não aceito desaparecer? É muito maçante estar sóh: entre Eu e o Vazio! Varias vezes me considero em frente aos outros, isso me engana bem, esqueço de mim, um fantoche ajuizado por um bêbado... Devo ter alguma culpa calada para não me aceitar moderado e viúvo de mim. Quanto vale a alma de cada gota do meu lamento que avoa do coração na medida incerta, sem socorro? Quantos metros de dor me cabem nesse salto da demência sem calma? Esse povo do peito, essa trupe de cálices que respeito... tem me fudido! Que cobiça é essa que assalta meu menino ânimo? Ah, sei lá, tá complexo não me distrair de mim! Até tento, me atendo, paro, pairo...mas piro!!! Perco o fio, lavo minhas mão e, de repente, me apanho distante do que preciso presenciar. Estou cada vez mais alheio do que cogitei vir bancar aqui! Isso poderia ser um bilhete para eu me recitar quando besta , uma lembrança, uma reza para o Deus dos momentos remotos da inspiração, para que eu leia e me ressalve do que realmente me importa... porem, SEI que, esse impulso do meu pulso foliando a angustia em palavras já acabará e tudo desandará ao normal: Eu, o silêncio e nenhuma ideia de como me iniciar atento ao que prezo e presto. !

Basta

Borá, Batizarmos, Bastião?! Boa! Bastião, Brasileiro, baixo be-á-bá, batalhador, brejeiro, bondoso, benquisto banguela, batuta, beca barata , blusa buraca, bermuda baqueada, básico boné barraco beira barranco, bocada bagaçado Bole burro brabo, Bate-pé . Bom bagre Bajula boiada baita barriga barulhenta: babo busca , batata, beterraba, bisnaga banana. A buchada bombo Bastiao, Bem Belisca, bolina, beija bonita, Benivalda bora bimba bacuri à beça, Balbino, Bentinho, Barnabé Belmiro, Benedito , Basilio, Baltazar, Bastiao bajula berra babão Bora bacuris brinca, bate bola, Bater bafo Batizar Balao Balaco boia bagunça Bastiao berra bordao: Boteco bombando, bora Benivalda? Balcão, baralho, bilhar, breja, boêmia, barganha bolinho barato, Bebe bem, batuca, bateria, baião, Bossa bamba brilha, beija, bisa, Baila Benivalda, Barulho... bandido brigao bafora , bota berro em Bastiao brusco Bastiao brasileiro barrado, banido, bate-boca, bate-pe, Barraco, buxixo, balbúrdia, baderna, bafafá, briga boa, baixaria ,boxe, berram blasfemias, bicudo, baderna, bote, bangue-bangue brutal: BA, BA, BA... Bala bate, Bastião balança, bambeia. Branco, baleado, brando, breve, bate botas Babou, Bastião. Babou! Barbaridade. Basta, bastião, basta! Basta! Baniremos brutalidade! Bofes brutamontes, boladões, briguentos: broxam. Bonitão, barbeado, Bíceps ,bronzeado, bom blazer, bilíngüe, bebe birita boa, bajula burguês, broto beijoqueiro, bairrista bota banca: Beleza Brega, besta, beira bizarrice! Bastardos! Bacanas bancam beldades: Bundas badaladas balançam: baboseira baixaria. Boneca Barbie, bolsa, busto borrachado, bulimia, bracelete brilhante:bela-bosta, bactéria badalada. A maior riqueza de um homem esta em tudo que ele conquistou e nao se pode comprar

Correio-Deselegante

Correio-Deselegante Não tenho juízo para poupar o que eu sou Saio pausado com vultos estranhos Tenho alastrado dilemas ao ninguém Caio no sono absoluto sem ninho Abluo os lustres de um teto sem Deus Sigo seco, em um infalível não Fraqueza baila um silêncio companheiro Frestas alumiam o dom dessa desesperança Herança que ganho de um menino tropeço Bendizer descrente. Resta a mente, contramão. Abarrotado desse tão, meu furor desengano Ser-tão, façanha da solidão Desleixado riacho banha as sombras da bravura Aguda dor sela o beijo do desencontro Nado no vento, sem crença no desgosto dos cães Ninguém paquera Deus sem entreter o Diabo Fardo é o riso dos másculos medrosos.

sei lá

Escuto vozes, gritos do ócio, um vazio insultando gratuitamente a minha quietude. Ficar inerte aleija meu riso Necessito da forasteira balbúrdia do viver com gente. O ruído dos passos de viajar na noite, mesmo que sem definição. Estacionado, perco o sentido do sentir.

rouco branco brando

O silêncio é uma folha calma, em branco, para o pensamento rascunhar o autoconhecimento Esse recinto vazio, intacto, da mente, único cômodo da solidão que o vozerio do outro não tem a chave . Esse quarto discreto para o mundo, faz da cabeça um hotel cinco estrelas para a imaginação aliviar e espairecer tudo que os sonhos falhados não alcançaram.

...

Compre flores para uma mulher Passe maquiagem para um homem Todos adoram enganar-se na beleza de um ato colorido Mas amar é Preto no branco

susto

Peguei no flagra a solidão pelada no espelho.... que tesão nessa vulnerabilidade nua

Cuspe

Sou sempre um vazio olhando perdido pela dupla vidraça do olhar. Só mudo de roupa e de ruga.
Despertei triste, de cara fechada pra mim mesmo Mascarado de um nada sem graça, como esse tal Deus quando nubla o céu Me sinto assim, camuflando meu sol do resto do mundo Tinha prometido parar com esse vicio de querer saber demais sobre essa tralha de alma que me sobrecarrega! Sempre Me torno minha própria pulga atrás da orelha. E sei que a paz tem motivos demais para me abominar assim. Gasto o tempo de forma arrogante, achando que uma hora vou saber o que sou! Foda-se o que sou! No final sempre fico parecendo o que tento ser. É uma matemática burra que uso de multiplicar a razão e a emoção dessa distancia aflitiva de tentar chegar a alguma conclusão sobre esse cara que me visto.

O CAOS É O CAIS

Em que porto aguardar a embarcação da sorte nos catar para o real paraíso, onde teremos mãos sem nenhum entusiasmo para esganar o próximo, bocas sem verbos para inventar razões e princípios? Embarcaremos quando no berço da paz? Qual trago conchega afetuosamente a vida dentro do peito? O inesperado é o fato mais palpável, essa próxima chuva, que virá como caricia da garoa ou sopapos do toró, é sim a privilegiada cara metade da verdade. O que cai do alto do agora para emporcalhar o caminho pode sim ser apenas um drinque de mau gosto que antecipa um soberbo prato de graúdas glorias. O amanhã foi criado para surpreender o hoje! Ser o mesmo de ontem dá mais trabalho, sustentar um homem que sempre fica para trás do seu tempo cansa! Soltar-se no rio das transformações é acompanhar a correnteza de ser novo a todo momento. Existimos apenas uma vez por segundo! A soma dos instantes que estacionamos nossas vontades, desejos, audácias é o que nos torna fantasmas da nossa própria história.

Coração a motor

Quanto é plausível, com dor, alcançar o sonho? Não existe separação maior entre a perda e o dano. E se o choro percebesse que seu motor é desabar? Nem a dor germinaria sem arrogância de existir. Natural : o apego é a trepada da carência com a admiração Porem o filho dessa trombada sempre nasce finado. Não nascemos prontos para perder amores intensos. Não seremos sepultados em caixão de casal. Dure o tempo que custar, a vida tem mais o que fazer...

Atalho das aparências

Pareço de carne e rosto Porem, meu desgosto maquia meu tanto Do pranto sei desaguar pouco a pouco No louco tento me desatar de tempos em tempos Enquanto minha marcha tropeça nos fardos Os poemas me vestem de um trapo denso Pinto-me de vento, distraio-me de branco Alento, solto traço, ao ponto de morar no beco Rego o tempo, como quem distrai a biografia do prazo Pesco teatro, indico fábulas, enquanto vou morrendo

Acalmando o NADA

Hoje contenho o absoluto nada amanhado em minhas mãos Esperança de achegar no Maximo perto de lambiscar que meu ontem SIM existiu O futuro vem esquivado de mim como cobra presentemente teme se sustentar de maça Não tenho mais coisa nenhuma com Deus. Diabo para mim nem brotou, sobra-me a invisível abocanhada do acaso Meus dons praticam natação no riacho que desaba na aresta de qualquer oceano Nada sei, nada tenho, nada quero... nado no nada e no nada nada me afoga nem afaga Meu distrito, peito, sons ensurdecedores, despertam as dores, sortuda surda paz não surta

Sóh

Solidão, enfastiada de vagar abatida, jururu, pelos becos soturnos do rubro peito; notando o meu viver apenas pelas frestas do encurtado universo que me trancafiava, arquitetou uma coragem ilícita de me fazer censurar os sonhos superficiais que até ontem me guiavam por um calunioso caminho que me induzia pra bem longe do palácio aonde cobiço me tornar alteza de mim. Solidão que antes não teimava palpitar sobre a existência desse povo excêntrico que enfeza o meu ser, muito menos se aventurava sapatear rechonchuda com sola quente sob meus frágeis anseios de ser lúcido. Idealizou em uma alquimia desastrada, a fórmula de me desvendar a face aos espelhos mais claros e aguerridos que um homem pode se avistar. Nessa troca de olhares do meu estado escuro de ser um falso são, e a iluminação de se saber ser só, nessa trombada do bem e do mal, fez de tudo que sustentara o desespero de alguém sem saída até ali, transformar-se em uma razão de plástico e todo alento de encontrar-se passou a deixar pegadas de ouro em direção a terra aonde meus bichos de verdade poderão ser livres e desvairados. O meu tudo, do mundo nada mais anseia. Nenhum movimento, ou algum tipo de cavaqueira com esse sucesso que os homens indiferentes a si buscam. Solidão ancorou todo o seu sentido no ventre da minha alma, e quem até hoje abrolhava diariamente insatisfação, viu desabar do céu um temporal de paz, e ali a sanidade enfim lavou-se, fez-se fonte de seiva para minha criatura mais luminosa. Solidão hoje é a ditadura charmosa do meu embananado povo, anjo da guarda de todas as minhas faces, do meu Eu antes ateu, se fez divina.